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 Choro imensamente, tenho os olhos d’água e já não sei mais o que sentir, o corpo, adormeceu. A mente da voltas em borbulhas. A mim me passam todos aqueles momentos, sendo momentos aqueles que, por serem vividos entre todos os que somos, vivemos por dores e amores que esperamos um dia revê-los ao menos em memória, acabam também por ficar na nossa caixa de Pandora. A verdade é que chove lá fora e, dentro de mim um rio passa tranquilamente. Já estive entre trovoadas, tempestades e tempos completamente rasos, mas hoje meu rio segue um movimento contínuo lentamente a caminho de não sei bem o que. Já não sei mais o que sentir, hoje meu corpo que chora, chora de pura emoção. Tendo que emoção seja tudo aquilo que sentimos como pessoas interiores e, transparecemos externamente, somente à aqueles que estão parados o suficiente para sentir-nos, ele não chora sozinho. Hoje eu sou todos esses que correm um mesmo rio. E Rio. Não sei se rio de tristeza, angústia, medo, euforia ou extrema alegria, ou talvez nenhuma delas, toda essa dor de ter o corpo adormecido talvez seja mesmo somente um rio, desses que passa, e ao passar vai arrancando depósitos de suas margens até que deságüe no mar. Talvez seja eu mesmo esse rio, a caminho de um oceano de nada. Talvez eu esteja exatamente ali, a ver o rio passar calmo e sereno, sentado à margem a brincar com pequenos barcos de papel.

Ike Ferreira